Ciência desvenda por que algumas pessoas riem quando outras caem

Segundo pesquisadora, quatro elementos explicam esse comportamento

29/05/2025 07:02

Você já riu quando viu alguém tropeçar na calçada ou errar um degrau da escada? Talvez tenha sido com seu amigo, um desconhecido na rua ou até mesmo assistindo a vídeos na internet. E depois pensou: “Isso foi cruel… Por que eu ri?” Rir de situações embaraçosas — como tropeções, escorregões ou quedas — é um comportamento mais comum e complexo do que parece. Segundo a psicologia, esse riso não é sinal de maldade ou insensibilidade.

A professora Janet Gibson, autora do livro “An Introduction to the Psychology of Humor” (2019), explorou esse tema em entrevista ao podcast de ciência CrowdScience, da BBC. Segundo ela, existem quatro ingredientes essenciais que fazem com que uma queda aparentemente banal se transforme em motivo de gargalhada.

1. Violação de normas sociais

O primeiro fator que contribui para o riso em situações de queda é a violação da norma esperada. Nosso cérebro assume que todos irão caminhar normalmente de um ponto a outro, sem tropeçar ou se machucar. Quando alguém foge desse padrão e “quebra” essa expectativa, ocorre uma espécie de choque com a ordem social.

Embora essa violação represente uma perturbação, paradoxalmente, quanto maior o desvio da norma, mais engraçada a situação pode se tornar, segundo Gibson. Isso acontece porque o inesperado ativa circuitos de surpresa e prazer no cérebro — desde que a situação não pareça perigosa.

2. Fator surpresa

O segundo ingrediente é a surpresa. O riso geralmente surge como resposta a algo inesperado. E não é apenas a queda em si que nos pega desprevenidos, mas também o modo como ela ocorre: uma escorregada dramática, um tropeço bizarro ou o momento inoportuno em que o tombo acontece. Essa quebra de expectativa provoca uma resposta emocional rápida — e muitas vezes, incontrolável.

Segundo a psicologia, rir de alguém caindo não é sinal de maldade ou insensibilidade
Segundo a psicologia, rir de alguém caindo não é sinal de maldade ou insensibilidade - baona/istock

3. Ação inofensiva e estabanada

O terceiro ponto fundamental é a percepção de que a queda foi inofensiva. O riso só acontece se o nosso cérebro consegue avaliar que a pessoa envolvida não se machucou gravemente. Se houver sinais claros de dor, sofrimento ou vulnerabilidade extrema, a tendência é reagirmos com empatia, não com humor.

Por isso, contextos como vídeos de tombos ou situações do cotidiano geralmente são vistos como engraçados quando a “vítima” se levanta sem maiores danos. A leveza da cena permite que o observador relaxe e ache graça do imprevisto.

4. Expressão facial da vítima

A última peça do quebra-cabeça é a expressão facial de quem caiu. Estudos mostram que nosso cérebro analisa rapidamente as emoções no rosto da pessoa envolvida. Se ela expressa dor, raiva ou vergonha profunda, a situação perde o apelo cômico. Por outro lado, expressões de perplexidade, surpresa ou constrangimento leve sinalizam que tudo está bem — e que podemos rir sem culpa.

Rir com distância emocional

Caleb Warren, pesquisador da Universidade do Arizona, acrescenta um conceito importante: o distanciamento emocional ou temporal. Segundo ele, até situações inicialmente graves podem se tornar cômicas se houver uma certa distância — seja geográfica, social ou no tempo. Um tropeço pode não ser engraçado no momento, mas virar piada entre amigos dias depois. Esse distanciamento permite que o cérebro reinterprete o evento com mais leveza.