Cientistas apontam para os sinais iniciais de demência mais subestimados

Esses sinais em nada têm a ver com a perda de memória, característica mais conhecida da condição

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
24/06/2025 07:05

Sinais precoces da demência podem surgir de forma muito mais discreta
Sinais precoces da demência podem surgir de forma muito mais discreta - Naeblys/istock

Quando se fala em demência, a maioria das pessoas pensa imediatamente em esquecimento, confusão mental e alterações de comportamento. No entanto, especialistas alertam que sinais precoces da doença podem surgir de forma muito mais discreta, e muito antes dos sintomas mais conhecidos.

Pesquisadores internacionais vêm reunindo evidências de que mudanças sensoriais como perda do olfato, alterações na visão, audição, paladar, tato e até problemas de equilíbrio podem ser indicativos de demência até 20 anos antes do diagnóstico clínico.

Esse alerta tem implicações diretas também para o Brasil, onde, segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), cerca de 1,7 milhão de pessoas vivem com a doença, muitas ainda sem diagnóstico ou acompanhamento adequado.

O que muda no corpo antes que o cérebro dê sinais claros

A demência é uma condição neurodegenerativa progressiva, ou seja, vai destruindo células cerebrais aos poucos, afetando diversas áreas do cérebro. Com isso, os sentidos também são prejudicados de forma precoce, pois envolvem regiões cerebrais específicas.

Entre os sintomas sensoriais mais observados estão:

  • Perda ou alteração do olfato — que pode surgir até uma década antes da perda de memória;
  • Problemas de visão — dificuldade de enxergar com clareza ou interpretar o que se vê;
  • Distúrbios de equilíbrio e coordenação — tropeços, quedas e insegurança ao andar;
  • Alterações auditivas — sons mal interpretados ou dificuldade em perceber vozes;
  • Problemas de noção espacial — como esbarrar em objetos ou ficar muito próximo das pessoas.

Esses sinais são frequentemente atribuídos ao envelhecimento natural, mas devem acender um alerta, especialmente em pessoas com histórico familiar de demência ou doenças neurodegenerativas.

Muitas vezes pistas importantes acabam sendo atribuídas ao envelhecimento normal
Muitas vezes pistas importantes acabam sendo atribuídas ao envelhecimento normal - PonyWang/istock

Diagnóstico precoce pode mudar o curso da doença

Até hoje, os testes tradicionais de diagnóstico da demência são focados quase exclusivamente na memória e cognição verbal. Mas alguns especialistas defendem que avaliar também as alterações sensoriais pode ajudar a identificar a doença em estágios mais iniciais, quando o tratamento tem mais chance de fazer diferença.

Segundo os pesquisadores, incorporar testes de percepção sensorial às avaliações médicas poderia antecipar o diagnóstico em anos, o que abre espaço para intervenções mais eficazes com medicamentos e terapias cognitivas.

Quando buscar ajuda

Se você ou um familiar está notando mudanças inexplicáveis nos sentidos, como perda de olfato sem causa aparente, problemas de equilíbrio ou dificuldades visuais que não melhoram com óculos, é hora de ficar atento.

Esses sinais podem surgir muito antes da perda de memória e são particularmente relevantes em pessoas com menos de 60 anos, grupo onde a demência de início precoce costuma ser negligenciada.